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Entrevistado(s): João dos Santos (73 anos) e Benedita Aparecida Messias dos Santos (56 anos) Entrevista e transcrição: Jussara Christina Reis e Séfora Tognolo Local: Bairro do Moinho, Nazaré Paulista/SP [.]: trecho removido ou não transcrito.
Jussara: Qual que é o seu nome completo?
João: João dos Santos
Jussara: E o seu?
Benedita: Benedita
Jussara: Benedita.
Benedita: Aparecida Messias dos Santos
Jussara: E o senhor tá com quantos anos seu João?
João: 73
Jussara: E a senhora dona Dita?
Benedita: 56
Jussara: E o senhor nasceu aqui mesmo [Moinho]?
João: Nasci no bairro da Pedra Branca, só que eu saí de lá com 9 ano.
Jussara: Com 9 anos?
João: É que eu vim pro Moinho.
Jussara: Pedra Branca é Nazaré mesmo?
João: É Santa Isabel, acho.
Jussara: É que é vizinho né? E o senhor veio com seus pais?
João: Eu vim com meus pais.
Jussara: E o seus pais vieram por motivo de trabalho.
João: O trabalho dele era lavrador, fazia umas plantação, fazia carvão, um pouco né? Pra arrumá um
dinheirinho, [risos] senão não tinha como vivê né?
Jussara: E a dona Dita nasceu aqui no Moinho? Nascida no Moinho. A Família já era daqui?
Benedita: Minha família é daí.
Jussara: Quem foi o primeiro aqui? O seu avô, bisavô.
Benedita: Foi o meu bisavô né?
Jussara: Ele chegou aqui.
Benedita: Ah eu não conheci ele, nem o meu avô eu conheci. A minha avó já era falecida, que a última a
falecer da família, meus avós.
Jussara: Entendi. E vocês se conheceram como?
Benedita: A gente morava aqui pertinho, a gente já conhecia desde criança.
Séfora: Mas aí encontrava em.
Benedita: Ah encontrava nas estradas.
Séfora: Nas festas.
Benedita: Nas festa.A gente ficou conhecendo mesmo nas festa.
Jussara: E vocês têm parentes aqui?
Benedita: Toda a família eu tenho, a minha família é daqui.
Jussara: E do senhor?
João: Os meus avós já era daqui. Já faiz 57 anos que ele é falecido. Faiz tempo né? [risos]
Jussara: E vocês têm filhos?
João: Tem.
Jussara: Quantos filhos?
Benedita e João: Três.
Jussara: E a profissão de vocês?
Benedita: lavrador.
João: É lavrador mesmo porque agora a gente num planta mais, faiz pouca planta né? Pouquinho só, no alto
da casa aqui pra. Que nem era num é mais.
Jussara: E no passado com o quê que o senhor trabalhava, o quê que plantava mais aqui?
João: Milho, feijão, tinha uns gado. Então, a gente sobrevivia desse sentido.
Jussara: E era a família toda que trabalhava?
João: É toda. Todo mundo trabalhava aqui, todo mundo era da.
Benedita: Tudo era da lavoura, só fazia lavoura.
João: Esse município aqui fornecia muita coisa, queria comprá cinquenta boi tinha, queria comprá porco
tinha, queria comprá milho tinha, queria comprá arroz tinha. Daqui saía pra Guarulhos e pra Santa Isabel, ia
pra Atibaia. Todo saía daqui, agora tudo tem que comprá.
Séfora: E aqui o senhor plantava pra comê ou vendia?
João: A gente comia e o que sobrava a gente vendia. A gente plantava pra trocá com outras coisa né?
Jussara: E essa mudança, essa diminuição da lavoura, aconteceu mais ou menos. Quanto tempo faiz que
começou a ficá mais fraquinho aqui?
João: Fica fraquinho já tá uns vinte anos pra cá.
Jussara: E por que que será que deu essa diminuída?
João: Mais porque agora não tem mais orde de limpá a terra. Então não tem como.
Benedita: A restrição.
João: Não tem como fazê.
Séfora: Não tem como.
João: Não. Agora ninguém planta mais.
Benedita: É proibido.
João: Agora tem que comprá tudo. Tem que vir de outro lado, aqui não tem mais.
Benedita: Vem pra gente do outro Estado né? Porque São Paulo não tem mais.
João: Aqui acabou. Os filho tão. os mais novo, tão tudo indo embora, aqui tá só velho, morando. Que são
aposentado. então ele fica ali meio estreito mai vai.
Jussara: Além da mudança da.que a diminuição, hoje tem alguma coisa de plantação? Aqui no bairro? De
planta assim, de alimentação?
João: Agora a única coisa é só eucalipto.
Jussara: É só o eucalipto?
João: É só. Esse aí ajuda um pouco os velho. Um dinheirinho a mais. Se acabá o eucalipto aí.
Jussara: E com relação à paisagem assim, antes tinha mais mato ou agora?
João: Aqui era tudo limpo. Aqui era plantação e pastagem.
Jussara: E o gado que criava era pra corte e leite?
João: Era pra corte né?
Jussara: Mais pra corte.
João: Mais pra corte que vendia. Vendia pra Guarulhos, vendia pra Santa Isabel. Eu memo vendia, agora
não tenho mais o gado.
Séfora: Tem nenhuma cabecinha mais?
João: Não, não tenho.
Benedita: Nem um leitão.
Todos: Risos.
Séfora: Nada de criação.
João: Nada de criação.
Benedita: A gente não consegue criar mais, a gente já tá cansado.
João: Tem muita chácara aqui né? Então não dá. Fechá também não [.].
Benedita: E a chácara. vem muita gente da cidade, que tem chácara aí muitos moram. Então não tem como
criá mais a criação. A não ser fechado, mais.
João: Vai aborrecê os pessoal [risos]
Benedita: Que fechado não dá pra criá também né? Galinha mesmo fechada. Galinha e porco é bom solto
né?
Séfora: E aí acaba indo pra chácara dos outros e o pessoal reclama né?
Benedita: E tem que reclamá mesmo né? Imagina.a criação na planta.
João: Vai bagunçá no vizinho não pode.
Todos: Risos.
Jussara: E no passado como que vocêis organizavam o trabalho assim? Por exemplo: os homens faziam
alguma atividade, as mulheres faziam outra? Como que era organizado?
João: Os homens trabalhavam na roça, as mulher também.
Benedita: As mulher faziam a parte da. A mulher trabalha mais do que os homens, eu num sei as mulher de
hoje, mais as mulher de antigamente trabalhava dentro de casa, cuidava dos filhos, ainda tinha que ir pra roça
ajudá.
Séfora: Mais ia todo dia?
Benedita: Todo dia. Todo dia ia ajudá.
João: Segunda a sábado
Benedita: Só se tivesse chovendo. Daí com criança não dá pra ir na roça né? Mais ia.Minha irmã, tinha um
monte de filho tudo pequenininho, ai.ia todo dia na roça. Só tirava sexta e sábado pra cuidá da casa, pra lavá
roupa, cuidá da casa.
Séfora: E os meninos ficavam em casa sozinho?
Benedita: Ah ia tudo pra roça, ia pra baixo da árvore né? As criança ficava na sombra. E o mais velho olhava
o mais novo, e era assim a vida de nóis antigamente era assim.
Jussara: E começava a trabalhá com que idade mais ou menos?
Benedita: Desde criança, ia tudo pra roça né? Aí o que podia mais ia trabalhando, o que não podia ficava
sentado na sombra, ia assim.
João: Escola não existia.
Benedita: Escola não tinha. Depois tinha, mais era só o primário. Fazia o primário, pronto o estudo era esse
na roça. Era muito sofrido nossa. Hoje ainda tem muito estudo, as criança vão tudo pra cidade, tudo mais
organizado. Mais naquele tempo não. Daí tão estudando, esses jovem que terminou o colegial né? O terceiro
colegial, tão tudo trabalhando na cidade. Não tem como trabalhá na roça.
João: Porque se for pra trabalhá aqui não ganha dinheiro pra comprá um.um chinelo.
Jussara: Difícil né?
João e Benedita: É difícil.
Benedita: É difícil porque ninguém consegue pagá o.pagá, porque não tem como pagá né? Cada um tem só
o seu salário, sua aposentadoria mesmo, um salário, que tem mora na chácara tem só um salário.Então não
tem como pagá ninguém né?
João: É, os caseiro é um salário só.
Benedita: Ainda agora tá muito bom porque quem veio da cidade deu muito emprego pro povo do sítio
porque tão tomando conta da chácara, trabalha na chácara tem o seu ganho, tem a sua casinha pra morá,
quem mora tudo na chácara. Mas antes não.
João: Dá pra levá a vida.
Benedita: O trabalho era rude, tinha que trabalhá.se quisesse tê um feijão, um arroz ainda. Era muito
difícil. Que o plantio é setembro até fevereiro depois num tem, volta só em setembro de novo plantá.
Séfora: Mais isso pra qualquer plantação?
Benedita: É porque é arroz e feijão né? Arroz, batata, essas coisa. Era cana de açúcar, a gente vivia disso né?
Arroz, cana de açúcar, tinha o cafezal, vivia do café puro. Torrava e fazia.
Séfora: É? Vendia também?
Benedita: Não só por gasto, às vezes nem dava ainda, tinha que comprá ainda, quando faltava.
Jussara: E os vizinhos assim trabalhavam.tinha um momento de trabalhá junto, que ajudava?
João: Trabalhava junto.
Benedita: Trabalhava pra comê.
João: Às vezes tava com a roça lá precisando limpá, ia ajudá outros.
Jussara: Conforme um precisava de ajuda ia.
João: Precisava de ajuda, reunia o pessoal pra fazê a limpeza.
Jussara: De mudança assim no bairro, de todos esses né anos que vocêis moram aqui, além da diminuição,
praticamente inexistência de planta né, tirando o eucalipto, o quê que mudou aqui no bairro, no Moinho, na
região?
João: Aqui não mudou nada, só a mata.
Benedita: Só a mata.
João: Só as mata que saiu.
Benedita: Tem o eucalipto, quem tem uma parte de eucalipto e uma parte de mata.
Jussara: Foi mais o surgimento do eucalipto e o crescimento da mata.
João: É.
Benedita: O que mudou. Aqui, por causo que antes era pastagem que criava gado, hoje não, hoje em veiz de
sê pasto, gado, é o eucalipto. O único que mudou foi esse. Agora o resto é ritmo.
Jussara: E tinha.por mais que não tivesse mata bastante, mas tinha algumas árvores assim quais que tinham
no passado que hoje cêis não veem muito?
João: A qualidade das árvores?
Jussara: Isso.
Benedita: Árvores frutíferas.
Jussara: Pode ser também ou de flor, árvore que dá flor.
João: Aqui tinha as árvore que o pessoal usava pra construí casa, coisa de cerca, era.como é que chamava.
aroeira, cedro, peroba d’água, guatambu pra fazê os madeiramento.
Séfora: Isso tudo pra construí casa?
João: Era pra construí casa.
Jussara: E aí retirava, pegava lá no mato mesmo.
João: Pegava no mato, tinha o que falava. cerrava pra tirá tábua, aquelas madeira. canela.
Benedita: Ah meu pai fez a casa dele tirando tudo lá do mato.As vigas.
João: Jacarandá, tirava as tábuas [.].
Séfora: Só no serrote né?
Benedita: Serrote.
João: Na serra.
Jussara: E o seu pai feiz.
Benedita: Feiz a casa. A casa dele foi tudo lá no matão, lá atrais dessa montanha ali que ele tirou toda as
madeiramento pra casa dele, tirou tábua pra fazê a janela, a porta, o batente.
Séfora: E usava alguma pra ferramenta? Cabo de enxada? Tinha alguma que era a preferida pra isso?
João: Tinha, guatambu.
Séfora: Guatambu pra.
João: Tinha o ipezinho amarelo.
Séfora: Ipê amarelo? Mas tinha que sê o amarelo?
João: É tinha que sê o amarelinho.
Séfora: É por quê? Não podia sê outro?
Benedita: É porque é a madeira mais especial [risos].
João: O guatambu, o que os pessoal usava aqui era o guatambu. Agora não pode cortá mais guatambu [risos].
Saí aí na estrada.
Benedita: Agora nem cabo de ferramenta a gente não pode cortá mais.
Jussara: Não né? E a aí a senhora tava falando.
João: O mijolo era feito usado pau de guatambu e do jacarandájacarandá. A roda de água fazia de jacarandá.
Jussara: E como que construía? Quem que projetava?
João: Ah, uns tinha as ferramenta dele e fazia.
Benedita: Meu pai mesmo fez a roda d’água dele, fez o.fez tudo.
João: Meus pais faziam farinha de mandioca, tinha a.chamava prensa, que é que nem um trado[? –
00:13:13] ele torneava o cerne do jacarandá, bem torneadinho, pra espremê aquele lá pra deixá só a massa.
Que nem ficá sequinho. Que tinha era a manual ainda, ia virando assim até.E o balaio era chamado tapeti,
aquilo lá era pouca gente que fazia, era que nem esses novelo de linho, preenchia ali de massa, colocava ali,
aquela prensa ia prensando, até.retirá a [.].
Jussara: E todo mundo trabalhava lá na farinha?
João: Trabalhava.
Jussara: Homem, mulher.
João: É tudo junto.
Jussara: Todo mundo junto que trabalhava. E aí quando, por exemplo, iam construí um monjolo, fazia a roda
d’água, por exemplo, chegava a desenhá assim ou tinha.
Benedita: Era.
João: Eles faziam no.Não tinha nada marcado, desenhado.
Benedita: Não, mais na madeira desenhava como que tinha que fazê.
João: A não.riscava lá, e fazê.
Benedita: Pra cortá, os cambote[?- 00:14:05] tudo era assim. Era. não era régua, era.você já viu a roda
d’água né?
Pesquisadoras: Já.
João: Fazia umas ruena[? – 00:147:14] tudo com. assim, trêis eixo, esse era virado com burro. Aquele lá era
a guarapa, da cana, fazê açúcar.
Benedita: Viu como era sofrido antigamente?
Séfora: E não tem nenhum mais aqui no bairro?
Benedita: Não. Agora não tem mais nada.
João: nada, nada. Na venda do Joel lá tinha aqui. Tinha, acabou tudo.
Benedita: Mas nem aparece o sinal mais.
Séfora: É tão bonito né? A gente custa pra vê.
Benedita: É isso que a gente para e pensa, quando a gente era menina né, era tão sofrido, mas ao mesmo
tempo era tão divertido porque nasci e cresci na família de oito irmão né? Então era muito divertido, a gente
saía correndo descalço de manhã, ia pro mijolo, pro mangueiro do porco [risos]. Era muito divertido. Dava
geada a gente saía descalço no meio da geada, hoje se a gente fazê essas coisa, a gente não consegue fazêmais.
João: Hoje tem que tê pelo menos um chinelo.
Todos: risos
João: Ah, num tinha espinho, num pegava espinho, não sei, o pé como aguentava.
Benedita: Andava no meio do sapeeiro do pasto, que o pai criava gado, andava correndo no meio do
sapeeiro, descalço e não espetava o pé. Hoje a gente vai de chinelo né se espeta tudo.
Séfora: O sapeeiro é o quê? É mato?
Benedita: É mato. O sapeeiro, é assim né, ele cresce daí dá aquelas raízes, sai aqueles.
João: sai que nem agulha
Benedita: Sai parece uma agulha assim, a muda que tá soltando. Daí se a gente pisá ali, entra mesmo. Ele
vai, até onde der pra ir ele sai.
Jussara: E vocêis brincavam muito então?
Benedita: Ah nóis corria no pasto atrais de galinha, de galinha angola.
João: O divertimento era pescá, porque num tinha nada.
Benedita: No final de semana não tinha divertimento, não tinha nada de televisão, os meus irmão ia pro mato
pegava peixe com aquele cipó[? – 00:16:05] cambira. Cambira né?
Jussara: Como?
Benedita: Cambira.
João: Cipó cambira.
Benedita: Cipó cambira. Era dessa grossura assim. Ele trazia e fazia uma balança, eles se divertia o dia
inteiro, eles, as molecada. Aí durante a semana eles iam pra roça, aí era nóis que ficava lá [risos] a semana
inteira balançando.
Jussara: E colocava a balança aonde?
Benedita: Numa árvore.
Jussara: Que árvore?
Benedita: Aroeira. Debaixo da aroeira tinha uma bica d’água e uma passagem assim que todo passava, o
gado passava, a gente passava. Ah era tão divertido. Ah fica uma lembrança né? Tão gostoso a vida da
gente no sítio. Na cidade não tem isso né?
Pesquisadoras: Não.
Séfora: E os filhos gostam daqui?
Benedita: Eles gostam.
Séfora: Mais vêm pra passeá ou eles moram aqui ainda?
Benedita: Não meus dois filho casado mora aqui e um é solteiro ainda ele sai trabalhá e volta.
Jussara: E o senhor? Também brincava muito?
João: Brincava.
Jussara: Do quê gostava de brincá?
João: Era mais trabalho.
Benedita: As mulheres era que mais trabalhava né?
João: O primeiro par de botina que eu comprei, tinha dezesseis ano.
Benedita: Descalço
João: É descalço.geada.de buscá milho na roça. os burro, pra bardeá os bicho, ia descalço pisando na
geada. Naquele tempo geava. até hoje.[risos]
Benedita: Engraçado porque naquele tempo a gente pisava na geada a gente não sentia frio né? E hoje a
gente tá tão agasalhado dentro de casa que não dá nem vontade de saí pra porta, que tão frio que é.
Séfora: Nem machucava o pé né?
Benedita: Não machucava e nem sentia frio. Nessa época de maio junho, tinha palha de feijão né, a gente de
manhã cedo, a gente saía tacava fogo na palha de feijão, ficava esquentando no fogo. Até o sol esquentá.
Jussara: E vocês chegavam a fazê brinquedos, ou a mãe fazia brinquedos assim de.
João: É, os pai fazia carrinho pra saí puxando com o barbante [risos]
Jussara: E como fazia o carrinho?
João: Fazia de madeira.
Jussara: É? De que madeira?
João: Fazia caminhão.Fazia carro de trem a roda pra descê na descida.descia a lenha, as coisa, vinha
trazendo as coisa.
Benedita: Ah, os meus irmão brincavam muito nesse carro. É tipo de um triciclo né? Eles desciam a
pirambeira. E subia tudo empurrando. Descê, descia tudo.
Séfora: Lá em Minas eles chamam carrinho de rolemã?
Benedita: É isso mesmo.
Séfora: E tinha uma madeira especial pra fazê carrinho?
João: Tinha.sempre tinha.
Jussara: Qual que era mais usada?
João: Usava, agora não lembro mais o nome. Jequitibá.
Benedita: Mai nem existe mais essa árvore. Agora.
João: Ainda tem.
Benedita: Ainda tem? No meio do mato aí tem.
Jussara: E usava madeira pra fazê algum instrumento musical? Viola, essas coisa?
João: Aqui não fazia instrumento.
Jussara: E de.utensílios assim de casa? Usava cesto pra fazê.cesto, colher, essas coisas.
Benedita: Só.como é que fala.bordá, balaio.
Jussara: Balaio?
João: É.
Jussara: Como que é o balaio?
Benedita: É um cesto assim feito de taquara.
João: Balaio é que nem uma bacia grande assim pra por as coisa, por mantimento, enchia de feijão.
Benedita: Fazia aquele grandão assim.
Jussara: E quem que fazia?
Benedita: Tinha a pessoa que sabia, porque nem todo mundo sabia fazê né?
João: Fazia peneira né, peneira de taquara, pinima, na mata ainda existe aqui na virada de lá tem.
Séfora: De quê?
João: Taquara Pinima.
Séfora: Taquara.
João: Pinima. Ela dá, feito um cipó, ela vai embora pro alto. Cortava lá fazia peneira. Dava bom, é da
fininha, dava esse comprimento assim.
Benedita: É uma peneira que dura muito tempo, nossa.
João: Fazia peneira pra mariscá [risos].
Jussara: E vocêis sabiam fazê?
João: Eu não sei.eu não.
Jussara: Tinha que tê uma certa habilidade pra fazê.
Benedita: A prima dele que fazia.
Jussara: Ah é?
João: Ela fazia tudo quanto era de taquara.
Benedita: Tudo quanto era cesto ela fazia.
João: Que nem eu falei o tapiqueiro[? – 00:20:24] ela fazia. Fazia peneira, peneira pro arroz. Arroz tinha que
fazê pequenininho, tinha uma paciência pra fazê. Fazia.selecionava o jacá, bem grandão assim, fazia
sozinho, eu não sei como é que esse mulher consegue fazê. Ela conseguia fazê.
Jussara: E tinha assim, tirando verduras, o que era da plantação, planta de comê, tinha. que pegava no mato
tinha assim? Alguma erva que dava no mato?
Benedita: Serraia né? A única erva que dava no meio do mato.
João: A fruta que tem é aquela romã, tem um pé aqui, que até os passarinhos come né? O jacu vem comê
assim de tardinha ele vem né?
Benedita: Agora de verdura que dá no mato só serraia mesmo.
Jussara: E a turma comia?
João: Comia.
Benedita: Tinha um.como é que é? Cururu, também comiam né?
Séfora: Cururu?
Benedita: Cururu mesmo eles chamavam, chamava cururu mesmo.
Jussara: Que dava no mato? E aí chegava lá no mato, colhia?
Benedita: Colhia. Daí tinha mostarda, que esse aí também sempre no mato, dá muito. A verdura era esse, daí
fora a couve do quintal né? Alface, repolho, que plantava era esse.
Jussara: E essa que era retirada no meio do mato assim era.como que preparava?
Benedita: Fazia.refogava, fazia uma salada, cortava fininho, fazia uma salada também.
Jussara: Comia tanto cru e cozido também?
Benedita: É, comia cru e cozido.
Jussara: Legal.
Benedita: Era saborosa.E até hoje.
Jussara: E hoje tem ainda?
Benedita: Tem, só que hoje é muito pouco porque antigamente a gente colhia mais, aonde plantava milho né,
feijão, naquela tigueras que só ficava né, dava muita aquela. Agora é difícil quase ninguém planta mais, só o
do quintal é muito pouco.
Séfora: E no quintal aqui de vocês tem o quê?
Benedita: No meu quintal só tem alface, couve e cebolinha [risos].
Jussara: Mais ainda tem né alguma coisinha.
Benedita: Ainda tem.
Jussara: O senhor falou que conhece bem a mata né? Que o senhor sempre andava lá. E como que o senhor
foi conhecendo assim?
João: Ah eu andava no mato, naquele tempo tinha liberdade, até de caçá né? Porque hoje. [risos] caçá vai
preso [risos]. [.] Então naquele tempo o divertimento era. pescava, caçava, era só, num tinha mais, naquele
tempo tinha liberdade podia ir embora pra Atibaia.
Benedita: Tinha Nazaré dia de caça.
João: Podia embora, até Bragança [Paulista].
Séfora: E caçava o quê?
João: Matava uns bicho, num tinha amor neles. Agora hoje num.
Benedita: Não é que num tinha amor porque num tinha.
João: Agora mesmo que tenha liberdade num tem corage de dá um tiro no bichinho.
Benedita: Mais era o divertimento deles, antigamente. Não tinha o que fazê.
João: Era muito pouca gente.
Jussara: E caçava pra alimentá?
João: Era só pra alimentá. Os bicho do mato, é um bicho.a carne do bicho do mato é uma carne que pra
saúde é em primeiro lugar. Num tem outra.
Jussara: É? Por quê?
João: De saúde, de saúde, de verdade.
Benedita: É uma carne pura né?
João: É. É natureza!
Benedita: É da natureza.
Séfora: Melhor que a do gado?
Benedita: Pra saúde é melhor.
João: Pra saúde é, de todas as carne que existe, os bicho do mato é pra saúde. Ah, os índios são fortes né?
[risos].
Séfora: Só vive com coisa do mato né?
João: Só com as coisa do mato que nem de primeiro num tinha açougue, Nazaré o açougue abria sábado,
domingo lá pro meio dia fechava.
Benedita: Só uma vez por semana e cada mês que tinha a.
João: É de cada quinze dias só. Matava um boi lá dava pra todo mundo [risos]. O pessoal não comprava
muito não.
Benedita: Também era pouquinha gente né? Aumentou gente agora né?
Jussara: E qual bicho que era mais arisco assim, mais difícil de caçá? Quando caçava era.a alegria?
João: O bicho aí, era quati, porco do mato, eu nunca matei quati, nem porco do mato, os outro matava.
Benedita: Mas esse era antigamente.
João: Era antigamente, agora não.
Jussara: Ah sim, agora mudou muita coisa.
Benedita: Agora mudou muito, agora não pode mais.
João: Agora não tem mais jeito.
Jussara: E tinha árvore de cheiro assim, de época que dava um cheiro gostoso, que tinha aquele perfume?
Benedita: Canela né?
João: Canela. Canela é primeiro lugar né? Por aqui é. Até agora.
Benedita: Esse dava um perfume tão bom.
João: Até agora.nessa mata que tem aqui.
Benedita: Agora tem até na chácara plantado pé de canela né?
João: Canela tem de muita qualidade.
Séfora: Mas tinha uma época que tinha um cheiro mais forte assim? Alguma época do ano?
Benedita: Eu não lembro, é que eu nunca fui à mata né, você mexeu mais.
Jussara: E tinha móveis assim que fazia? O seu pai fazia, os seus pais faziam móveis também pra casa?
João: Tinha um que sabia fazê. Fazia. Cadeira fazia de madeira, cama eles faziam.
Jussara: Com que madeira fazia?
João: É canela mesmo.
Jussara: A canela era a mais usada?
João: É.
Jussara: E na casa de vocês tinha algum móvel que o pai ou o avô, os pais ou avô.
João: Era um móvel chamado catre né? Mesa eles faziam também.
Benedita: A mesa juntava as tábua assim, tirava as tábua assim, juntava e fazia a mesa.
João: Fazia janela, fazia de madeira.
Benedita: A bacia era gamela.
João: Maçaranduba era a que fazia gamela.
Séfora: Maçaranduba?
João: Gamela, sabe o que é gamela? Tipo de bacia né?
Jussara: Não.
Benedita: É tipo uma bacia né? Só que de madeira.
João: Era de madeira que fazia.
Benedita: Aí cê tomava banho naquele, porque chuveiro num tinha. Água tinha que buscá lá no rio, lá no
meio do mato [risos]
João: Risos.
Benedita: Hoje tudo tá muito mudado nossa.Hoje muitos reclama da vida que tá ruim, mas nós tamo num
pedacinho do céu. Um pedacinho do céu hoje. Vê o sofrimento do povo antigamente. Que eu já não cheguei
a alcançá tanto sofrimento deles né, mas mesmo assim a gente conheceu uma parte do sofrimento deles que
viveu aqui no sítio. A gente vivia né, era muito complicado, nossa.
Jussara: O senhor falou catre?
João: Catre era a cama.
Jussara: A cama chamava de catre.
João: Faziam lâmina de madera.
Jussara: E o colchão era de que?
Benedita: Palha.
João: [risos] Palha de milho.
Benedita: Tirava as palhas e fazia o colchão. Ia dormi aquele barulhão [risos].
Séfora: Do milho tirava tudo né? Tudo do milho usava?
Benedita: É, tudo do milho.
Séfora: E cêis plantavam aqui também, aproveitavam tudo?
Benedita: Aproveitava a palha, aproveitava tudo. Sabugo a gente queimava, fazia brasa. Aproveitava.
Jussara: Pra fogão de lenha?
Benedita: Fogão de lenha, é.
João: Pra passá roupa também né?
Benedita: A gente fazia aquelas brasa, ponhava um ferrinho de, você não conhece aquele ferrinho de manual,
assim de ferro?
Séfora: Ah conheço.
Benedita: Então a gente passava roupa naquele.
Séfora: E aí fazia a brasa com sabugo.
Benedita: Fazia a brasa do sabugo, colocava lá dentro, esquentava, dava pra passá uma porção de roupa.
Durava o ferro quente.
Jussara: Rendia bastante?
Benedita: Rendia. Dava pra passá um monte de roupa.
Jussara: E na opinião de vocêis, de cada um de vocêis, qual que a árvore assim que acha mais bonito, que é a
preferida que gosta de vê ou que gosta de lembrá?
Benedita: É, tem várias árvores aí.
João: É, tem bastante árvore. O cedrão é bonito, o jacarandazão, bem grande é bonito. guatambu dá
direitinho.
Benedita: Na época do Ipê quando tá florido é muito bonito.
João: Tem a peroba é bonito. Aqui não tem, só vi lá na Serra Negra. Lá tem uma árvore lá, peroba.
Jussara: Só na Serra Negra?
João: É. É na beirinha da estrada.
Benedita: Ah num tirava porque é na beira da estrada.
Jussara: E tem alguma história dessas árvores assim que a turma contava, que usava pra alguma coisa ou.
João: Ah usava. Peroba foi muito usada, acabou tudo.
Jussara: E era mais usada pra.era construção?
Benedita: Pra construção mesmo, construção.
João: Fazia portão.
Benedita: Fazia casa, fazia portão.fazia mijolo com essas árvore.
Jussara: E aí fazia.tinha alguém que fazia ou era família?
João: Tinha a pessoa certa que fazia.
Jussara: Levava?
João: Levava.
Benedita: A pessoa vinha fazê né?
João: Vinha.
Benedita: Era difícil levá né?
João: Não ia fazê lá no mato lá e trazia pronto.
Jussara: Hum.fazia lá na mata?
João: É. Ficava ali mesmo.
Jussara: Aí é.por exemplo, precisa fazê, sei lá, um mijolo, aí falava pra essa pessoa ia lá onde tinha.
João: Ia lá mato cortá [.], alinhava tudo e fazia.
Jussara: E depois de pronto?
João: Daí juntava os pessoal e trazia.
Benedita: Trazia tudo nas costa.
João: risos
Benedita: Fazia assim uma, um travessão de jacarandá, dois na frente e dois atrás. Era muito pesado.
João: E o pilão era o mais pesado. Fazia lá também.
Benedita: Aí aqueles varão da roda, puxava no boi. Meu pai puxou do boi, o varão, puxando todas as escora
da casa, aquelas madeirona grossa, puxou tudo no boi. Eu era menina ainda meia pequena. Ele trazia [.] do
boi, puxo tudo no boi.
João: Tinha local que não dava, tinha que ser no lombo do boi.
Benedita: Mas aonde o meu pai tirou, o boi chegou, trouxe, as madeira.
Jussara: Que aí era no.
Benedita: Jacarandá. Esse era o jacarandá [? – 00:37:13] cobertura do mijolo né? Então.era puxado no boi.
Jussara: E quando era puxado no boi era no carro de boi?
Benedita: Era. Não era na canga, não era no carro do boi, porque a madeira do mourão é bem comprida né.
Então era amarrado na canga e o boi puxava.
Jussara: Como que é a canga?
Benedita: A canga é um travessão, ponhando ne um, é dois bujão de lado, e do outro né, aí cangava os dois e
amarrava e puxava. Era divertido, sofrido, e muito divertido ao mesmo tempo. [risos]
Jussara: E o quê que era outra coisa que o senhor falou que fazia que era muito pesado?
João: O pilão.
Benedita: Esse tinha que trazê no ombro mesmo dos homem. Aí era a mata, tinha que procura lá no meio
daquela mata pra achá o pilão pra fazê, que o pilão não se tira de uma madeira pequena né, tinha que ser uma
madeira bem grande.
Séfora: E qual que era boa pra fazê o pilão?
Benedita: Jacarandá né?
João: É jacarandá mesmo. E o passoré, também fazia, o pilão e o mijolo.
Séfora: Passoré?
João: É. É uma árvore que tem aí.
Jussara: E usava pra fazê o pilão e o mijolo?
João: É.
Jussara: Nossa o pilão então era pesado de carregá
João: Ah muito! Era muito, o bujão dele grande assim pra por o mantimento era fundo, tinha que sê bem.
Benedita: O varão memo da roda era muito pesada, dava o que fazê pro boi puxá e pra conseguí ajeitá pra
depois puxá. Num era fácil não.
João: O mijolo de roda e o mijolo de vara [risos].
Benedita: É.agora o de vara não cheguei a conhecê porque.eu não sei mais, tinha mais eu conheci assim o
mijolo parado. Agora o da minha mãe eu via funcionado né [risos] que a gente trabalhava lá, a gente era
pequena, mocinha né? A gente ia trabalhá, minha mãe fazia açúcar, fazia farinha. Sempre tava no mijolo.
Jussara: Sempre trabalhando lá.
João: Torrá as farinha, a farinha de milho.Farinha de milho eu conseguia torrá, mas a de mandioca, só meu
pai torrava.
Jussara: Seu pai torrava de mandioca.
João: Ele torrava no forno.
Benedita: Não cheguei a torrá tanto, mas torrei um pouco também [risos] a farinha de milho.
Jussara: E como que torrava?
Benedita: No forno, manual. Ai era cansativo. aquele pó, aquela fumaça, todo dia. O dia inteirinho no
calor.Chegava a tarde a gente não aguentava nem ficá de pé. Que o dia inteiro envolta do forno ligado,
mexendo, que não pode pará de mexê, tinha que mexê direto.
João: Ele queima.
Benedita: É.
Jussara: E demorava quanto tempo pra torrá?
Benedita: Acho que uns 40 minuto pra ficá uma torra, bem torradinha, é demorado.
Jussara: E a mandioca era assim também?
João: Era.
Benedita: Só que a mandioca era fogo brando né, bem baixinho.
João: Se esquentá muito queima tudo [risos]
Benedita: Aquecido pouquinho, agora de farinha né, tinha que ser bem aquecido. Aí não podia pará de mexê,
tinha que mexê até ela ficá sequinha.
Jussara: Nossa. E qual é a diferença do monjolo de vara do de roda?
João: O de roda trabalhava mais, rendia mais o trabalho.
Benedita: Esse mijolo era de cocho né. Mijolo de vara.
João: É, fala mijolo de vara, mas não é vara nada, é varão [risos].
Benedita: Então enchia até o cocho subir, né?
Jussara: Na água?
Benedita: É. Enchendo aquela água despejava o mijolo caía. Depois enchia o cocho subia. E a de roda não, a
roda já virava e [.] o mijolo.
Jussara: E qual que era o mais comum aqui?
Benedita: Tinha os dois, mais, tinha mais era o de roda né?
João: O mais comum era o de vara de cocho.
Benedita: De cocho né. Não é de vara, é mijolo de cocho.
Jussara: Ele era menos trabalhoso pra fazê?
Benedita: Era bem lento. Que daí até a água enchê o cocho demora, aí só muito devagar cai. E a roda não, a
roda gira agitado o mijolo nã para. Vai rápido.
Jussara: E árvores de fruto, que dão fruta assim que vocês gostam?
Benedita: Jabuticabeira.
João: Ameixa.
Jussara: Jabuticabeira era a mais.
Benedita: Isso aí era o mais divertido porque era uma vez a cada ano. Chama mais atenção da gente né?
Jussara: E aí quando dá.
Benedita: A gente vai lá pesca lá em cima [risadas].
Jussara: Que gostoso!
Benedita: Ah tempo de menina. Tinha na vizinha da minha mãe, que na casa da minha mãe não tinha, agora
tem pé de jabuticaba né, porque meus meninos plantaram, mais no tempo da minha mãe não. A gente ia lá na
vizinha, então a gente ia bem devagarzinho, subia lá, descia igual [.].
Jussara: E comia lá em cima?
Benedita: É comia lá em cima, chupava lá em cima.
Séfora: Ah isso é que é bom.
Jussara: E o senhor seu João? Qual que era? Jabuticaba
João: A mesma coisa.
Jussara: Também gostava? Tava junto lá com ela no meio da criançada lá subindo?
Benedita: Nunca a gente teve junto quando era criança só quando a gente conheceu, começou a namorar a
gente ficou junto.
Jussara: Ah é?
Benedita: Aqui no mesmo bairro.
Jussara: E o senhor gostava de subir no pé de jabuticaba também?
João: Ah eu subia. Achava bonito subí lá em cima.
Benedita: Nossa bem carregadinha, toda pretinha.
Jussara: E subia rapinho ou como é que era?
Benedita e João: Era rápido.
Benedita: Porque tinha muito galho né.
João: O pessoal daquele tempo era rápido no galho.
Benedita: Agora a gente não consegue subí mais, mais no tempo que a gente era menina, aí.
João: Era que nem bicho memo.
Séfora: Subia em tudo.
Benedita: Subia em tudo.
João: Pra entrá na água num tinha.num tinha dificuldade não.
Benedita: A vida do sítio era esse, a alegria era esse vivia no sítio.
Séfora: Trabalhava muito mais se divertia também né?
João e Benedita: É.
Jussara: E de vocês assim qual que é a lembrança mais gostosa que vocêis gostam de lembrá da infância, ou
do tempo da roça.
Benedita: É isso mesmo que a gente mais gosta de lembrá, as árvores frutíferas, aquela a jabuticabeira, tinha
a laranjeira, tinha pé de pêssego.
João: O trabalho era duro, mais era bom, carpí roça.
Benedita: O trabalho era cansativo, porque era uns trabalho rude, pesado, na roça.
João: Quando a gente ia limpá a roça assim, pegava a tarefa tirava, era a alegria.
Jussara: O que era a tarefa?
João: A tarefa? A tarefa é a medida das área doze braço vale dois metro e meio. Quadrado assim né? 12 aqui
12 aqui e 12, 12.
Jussara: No terreiro pra plantá?
Benedita: Na roça pra carpí.
Jussara: Ah pra carpí.
João: Pra carpí.
Benedita: Pra carpí.
Jussara: E antigamente assim quando vocêis eram crianças ouvia muita história assim, que a turma contava
pra assustá a criançada? [risos]
Benedita: É.[risos]
Jussara: Tinha histórias?
João: História tinha muitas histórias mas só quando era antiga. Eu esqueci até toda história.
Benedita: Se a pai dele fosse vivo ele contava tudo, ele gostava de contá. Morreu com 76?
João: 86.
Benedita: 86 anos. Ele tinha uma mente tão boa, os menino, os dois mais velho, vivia lá: - vô conta pra nóis
uma história vô, conta um caso pra nóis. Ele ficava contando. Eles não esquecem do vô, eles não esquecem.
O vô era tão divertido.
Jussara: Ele gostava de contá história?
João e Benedita: Gostava.
Benedita: Contava história pros dois neto. Depois de 60 anos que ele conheceu o primeiro neto, o primeiro
neto dele?
João: É.
Benedita: Já era de idade quando chegou os neto.
João: O meu pai fazia as coisa toda de madeira. Ele fazia portão, ele fazia banco, banquinho assim
pequenininho, ele fazia. Ele fazia.
Jussara: Era talentoso né?
Benedita: Ele tinha uma mente muito sabia.
João: Tinha uma inteligência.
Jussara: E ele aprendia com quem?
João: Ah sozinho mesmo.
Benedita: Ele via gente fazê assim e fazia a mesma coisa.
Jussara: Então ele ensinava muita coisa para senhor?
João: Ensinava mais só que num aprendi [risos].
Benedita: Só que os mais antigo tinha essa capacidade e a mente que fazia, os novo já.os mais novo já não
tá nem aí com isso.
João: Ah os antigo fazia cada coisa.
Benedita: Porque eles viviam daquilo, se eles não fizessem, eles num tinha. Então tinha que fazê, hoje não
hoje é mais fácil comprá né? Tudo mais fácil.
Jussara: E das coisas que o seu pai fazia o quê que você hoje lembrando que você acha nossa que era uma
coisa difícil e que ele fazia bem feito assim.
João: O que meu pai fazia as coisa de madeira ele faiza bem feitinho, taquara ele fazia várias coisa balaio,
essa. o chamado jacá né? da roça, ele fazia.
Jussara: Jacá?
João: É grandão assim.
Benedita: Chegava tudo carregado de milho. Era tão bonito, tão aquela fartura, quando era a colheita.
Ai.essa é uma lembrança que a gente não esquece.
João: Colheita de arroz.Era gostoso.
Benedita: O arroz colhido no coisa. A gente limpava no pilão, mais era tão bom.hoje nem o arroz não é
mais bom como era antes.
Jussara: E o sabor era diferente.
Benedita e João: Era.
João: Era diferente, hoje mudou tudo.
Benedita: Minha mãe, a gente fazia numa panela de ferro, ai que sabor! Tão bom.
João: Era bem natural.
Benedita: Era tudo puro, era muito bom nossa.
João: Tinha saúde naquele tempo, cê num esquentava a cabeça. Tudo sadio.
Benedita: Era tudo forte, aguentava serviço pesado, era tudo forte. Hoje não, hoje tudo mais fácil, tudo
doente né?
João: Hoje tá todas coisa contaminada, a carne do, que a gente compra tá tudo contaminado. Pode ser do
porco, ser do boi, pode.As plantação que vem que é colhido, colhido hoje.é remédio, é adubo.não é
natural não.
Benedita: Que muito remédios.
Séfora: Mas tem alguém aqui que tem plantação ainda? Na região? De milho?
João: É pouquinho só.
Benedita: Planta só pra comê assim, verde, feijão mesmo pra comê verde, que o feijão verde é muito bom
né? O milho também, batatinha a gente planta, mandioca, mas é só poquinho, só pra gente comê assim. Não é
a gente planta assim pra comê o ano inteiro, a gente não faiz isso mais. Que é mais comprado mesmo.
João: É. O frango caipira era seis mêis que ficava o frango, ia naquele tempo.
Benedita: Agora até hoje.
João: Vai até hoje.
Benedita: Então.
João: Mais hoje é diferente, já num é que nem era.
Benedita: Não mais vai seis meses pra ficá um frango bom. Agora com dois meses o frango tá lá dando
enfarto lá já tá muito gordo né?
Todos: Risadas.
João: Leite.
Benedita: O leite da vaca era puro, hoje não é mais.
João: Essa braquiária não presta pra leite nem pra carne. Pasto capim gordura sim, que dá um leite gostoso,
leite doce, carne era melhor do que agora. Era mais puro.
Benedita: Fazia queijo, ai como era bom o queijo.
Séfora: Fazia o queijo em casa também?
Benedita: A minha mãe fazia. Minha mãe tinha vaca de leite, fazia. E até eu fazia também aqui uns tempo,
mas é quando tinha a vaca, agora não faço mais porque não tem. Mais a gente fazia quando tinha leite. Só
que o da minha mãe era o capim gordura, era o puro leite, daí o que a gente já tinha era braquiária, então já
era um, mais refinado.
Jussara: O capim que ele comia era diferente?
Benedita: O capim gordura dá o leite grosso, o queijo, dá um queijo mais amarelo, dá aquelas nata do leite
fazia, mandava fazê manteiga, as nata que tirava. Hoje o leite, vai fervê não dá nata mais, não tem mais nata.
Séfora: Que hoje é um outro capim né?
Benedita: É hoje é um outro capim, tem muitas purinas que eles dão pra vaca né, pra dá leite, senão num dá
leite, por uns que tem vaca, tem que a vaca produzí leite né pra dá, senão não dava pra mantê as vaca, então
tem aquela cevada que as vaca comem, que ali na picadeira, tudo ali junto. Então vem aqueles farelo tudo
tem que misturá, então não é puro, antigamente era só capim que elas comia, num tinha essas coisa. Então era
tudo purinho. Hoje não é mais. Tudo que você come, tem tudo quanta.não sai puro mais do animal. Nem a
carne, nem o leite.
Jussara: E pra transportá as coisa o senhor falou do jacá né? Qual que é a diferença do jacá e o balaio?
João: O balaio é pequeno, baixo assim, que nem uma bacia né? É feito assim um, balaio ali pra por
mantimento. O jacá é grandão, tem essa altura assim.
Benedita: Enchia de milho.
João: Enche de milho, tem a chamada arça de cipó cambira. Então põe lado a lado no bambu, depois.
Benedita: Daí puxava com o burro. O burro puxava do mato pra casa. Ia no jacá.
João: Ará a terra, quando tinha a pessoa que tinha um boi arado, arava, agora é arado com trator.
Benedita: Agora nem terra ara mais.
João: Não ara mais.
Benedita: [risos]
João: Por aqui.
Benedita: Tá tudo cheio de mato aonde nóis mora [risos]. Só tem mato.
Jussara: E cêis sentem falta assim de, da plantação.
João: Ah sente. É muito bonito a gente plantá.
Benedita: Bonito e é bom.
João: Muito bonito.A gente limpá uma roça assim que tá sabe tudo assim.
Benedita: Ai quando ele arava, feijão ali, quando tá fruindo o feijão saindo aquelas bage [vargem] a coisa
mais lindo. E hoje cê não vê mais. Aqui pra cá, você não vê mais.
Séfora: E você falou do feijão verde?
Benedita: Feijão verde antes dele secá. Que daí ele grana né aquelas varge assim viçosa que já aí vai pra
amadurecê né, pra secá, aí o feijão verde. É muito bom pra fazê viradinho, afogadinho, é uma delícia.
Jussara: E de.que vocêis comentaram que contavam muita história né, principalmente o seu pai né, de
medo e tal pras criançada, e cêis ouviam muita história? Que história de quê que falavam? Que tinha no meio
do mato, assim pra assustá, que o povo contava pra assustá as criança? Que vocêis lembram assim?
João: História de onça, mais num tinha [risos].
Jussara: De onça!?
João e Benedita: É.
Jussara: Qual que era a história de onça?
João: Parece que eu não sei contá mais a história de onça.
Benedita: Minha mãe fazia muito quando era criança: - não sai à noite fora que lá tem lobisomem. Era
lobisomem que ela fazia medo pra nóis.
Jussara: Era com o lobisomem?
Benedita: Era com o lobisomem.
Jussara: E ela falava o quê, que não podia.
Benedita: Porque o lobisomem pegava né? Ele dizia: - o lobisomem pega criança não pode sair lá fora. Que
era uma escuridão né você não enxergava nada né? Então criança, se saí, perdia na escuridão, então a mãe
fazia medo né? [risos]
Jussara: E aí não saíam mesmo?
Benedita: Não saia, porque dentro já era uma escuridão só tinha a lamparininha, que tinha essa lâmpada né,
só pra fazê o clarinho, daí abria lá fora tava um.não se enxergava nada.
João: As criança naquele tempo os pais fazia medo, o sordado né [risos].
Jussara: Soldado?
João: Fazia medo que o sordado vinha prendê.
Benedita: Quando ia na cidade ficava tudo grudado na mãe com medo do soldado [risadas]
João: Ah é duro. E ruim.
Benedita: Mais tinha que fazê medo, porque se não era esse medo também perigava né?
Todos: risos
João: O soldado prendia mesmo, não tinha o que fazê.
Jussara: E alguém já contou que viu onça aqui? História assim antiga?
Benedita: Eu acho que não, na mata alguém deve ter visto não?
João: Eu só vi o rastro por aqui. Um rastrão grandão assim. Sai às vezes sai precisá areia na beira da estrada,
tem até agora.
Benedita: Mais precisa de mata bem fechada pra tê.
João: Aqui tem muita mata.
Benedita: Na virada pra cá, aqui pra trais dessa montanha aqui tem muito mato.
João: Aqui tem uma fazenda de 700 alqueires tem 20 alqueire de pasto o resto é tudo mata. Não tem estrada,
não tem nada. Tem a estrada lá embaixo que passa.
Benedita: Mais que vai até o pasto né?
João: Daí tem essas mata aí que encosta pro lado de cá. Tem mais 200 alqueire de mata.
Benedita: Aqui na Pedra Branca é um montão de mata. Eu não conheço lá aquelas parte mais é toda mata. E
não é uma mata igual essa nossa, é mata mesmo, a gente passa na beira da estrada a gente vê. Bem fechada.
João: Aonde eu nasci eu fui, tá fazendo uns 4 ano, fui só pra visita a tapera, pra lembrá a tapera, eu cheguei
lá mais aonde tinha a casa, uns madeirão assim.
Séfora: Nossa
Benedita: Quanto anos faiz? 60 ano, mais?
João: Sessenta.é.setenta e trêis menos nove? Fica.
Benedita: Sessenta e trêis?
Séfora: Quatro
Benedita: Sessenta e quatro.
João: Sessenta e quatro.
Benedita: Sessenta e quatro ano. Tem madeira grossa.
João: Onde tem madeira, tem palmito.
João: Tinha palmito. Nóis também comia palmito, naquele tempo de.
Benedita: A mistura era palmito.
Jussara: Aí colhia lá?
João: É colhia e trazia.
Séfora: Mas era de que árvore? Como é que chama a árvore que dá o palmito?
Benedita: Palmeira né?
João: É palmito ligítio que a pessoa fala.
Séfora: Gita?
João: Ligítio
Jussara: Ligítio
João: É, ligítio. Palmito ligítio.
Jussara: Gostoso?
João: É.
Benedita: É uma. delicioso. Pra comprá tem né só que aqueles palmito não é gostoso não.
Séfora: Tem uns que é meio duro né?
Benedita: É. O que tá aí ainda bem temperadinho ali bem maciozinho é bom, mais o que não tá, não é bom.
Mais é o do grosso não é o do.
João: Mais fino.
Jussara: E o seu João falou que né já andava bastante pela mata, de vez quando ainda volta lá né, conhecia
bastante né?
João: Conhecia. E as matas lá conheço até hoje.
Jussara: E as nascentes, as águas assim?
João: Ah.tinha nascente.
Jussara: Tinha bastante?
João: Bastante. Tinha e tem [risos]. Tem no meio da mata, tem até cachoeira na mata. Tem cada cachoeira ali
que é uma beleza.
Jussara: Sério?
João: Na beira da estrada. Perto do pé do aeroclube, tô falando da beira da estrada tá lá a cachoeira. E mais
pra baixo ainda, pra lá não tem como entrá, lá conhecer lá, tem mais grandona. Cachoeirona.
Jussara: E o senhor viva pra lá assim. Desde pequeno.
João: Andava.lá é uma água que é boa, gostosa.fresquinha.
Benedita: Naquele tempo tinha liberdade. A gente podia onde a gente quisesse no meio da mata. Hoje não.
Hoje tem limite, passou toda a divisa, tem portão. Chegou na divisa tem que voltá pra trais, não pode passá
mais.
Jussara: Mais por que? Que não podia passá?
Benedita: É porque é a divisa. Hoje não pode passá né. Cada um tem a sua terra né?
Jussara: Da propriedade, e que aí é a propriedade particular. E antes mesmo sendo não tinha esse problema?
Benedita: Não tinha, podia ser a propriedade do outro podia entrá. Era liberado pra entrá mais hoje não.
Séfora: E aí cêis iam entrava pra nadá? Gostava?
Benedita: Eu não conheço lá, nunca fui. Ele que conhece mais.
João: Tomava banho de cachoeira no meio do mato. Era bom. Dá uma saúde.
Jussara: E a dona Dita andava no Moinho na mata?
Benedita: Não eu não gostava de andá na mata não. Já tinha medo.
João: [risos]
Jussara: Tinha medo de encontrá onça?
Benedita: Não, medo de bicho né? De cobra, dessa aí que eu tinha medo. Eu não andava muito no mato não.
Jussara: Os meninos que andavam então? Desbravavam.
Benedita: Moleque é que gostava de entrá na mata.
Jussara: E o senhor ia com amigos, primos, primaiada.
João: É tinha os primo que nóis chamava pra ir lá no mato.
Jussara: É, aqui na casa de vocêis, você falou que cultiva tem uma horta né, que vocês cultivam algumas
coisas.
João: É cultiva umas horta, uns plantio, pouco mais, plantio de mandioca. Planta um pouquinho só pra.
Benedita: Só pro nosso gasto mesmo. Planta mandioca, tem couve, lá na horta couve, alface.
Séfora: Tem cana também?
Benedita: Tem uns pé de cana, uns pé de cana [risos].
Jussara: E vocês plantaram, tem alguma árvore frutífera, alguma coisa assim?
Benedita: Tem árvore frutífera de ameixa, tem de amora, goiabeira, abacate.
Jussara: Cêis que plantaram?
Benedita e João: Nós que plantamo.
Jussara: Por quê que vocês escolheram essa?
Benedita: É a que a gente mais usa né? Quando a gente, é o que mais aproveita quando tem né? Daí tem pé
de palmeira plantada lá no fundo também.
Jussara: Na opinião de vocês qual que é, na região ou no bairro assim, o lugar preferido de vocêis? Que
vocêis gostam de ir.
João: Nóis gosta de ir na Congregação [igreja] né?
Benedita: É, o que a gente mais gosta de fazê é congregar. Três vezes por semana a gente vai na Igreja.
Jussara: É aqui em cima?
Benedita: É lá em baixo.
Jussara: Ah lá pra baixo.
Benedita: Nós tamo em cima, lá é embaixo.
Jussara: É o lugar preferido de vocêis.
Benedita: É a casa do pai. Lá a gente encontra tudo.
Jussara: E aqui na casa, no sítio de vocêis, qual que é o cantinho preferido de vocêis, que vocêis gostam?
Benedita: É a nossa casa né?
Jussara: Dentro da casa mesmo?
Benedita: Dentro da casa mesmo, que a gente não sai em lugar nenhum, a não ser pra Nazaré comprá alguma
coisa, resolver algum problema, mais a gente só vive aqui em casa mesmo.
João: Eu mesmo não frequento a minha vizinhança.
Benedita: Nossos vizinhos a gente não sai, só quando a pessoa assim tá precisando de alguma coisa, a gente
tenta ajudá no que pode né?
João: Quando precisa de ajuda a gente vai.
Benedita: Precisa de ajuda a gente vai. Ajuda no que pode.
João: Eles ajudam também. É assim.
Benedita: É só isso. A gente, o ritmo aqui é esse.
Séfora: Mas tem alguma festa ainda? No bairro aqui?
Benedita: Não. Só festa de casamento. Nisso a gente vai. Mais em outras festa não.
Jussara: E com aquelas pessoas mais antigas, é que nem você falou quando.que é o que tem mais contanto,
que tem muita gente nova né que mudou pra cá?
Benedita: Agora dos mais antigo, da nossa idade tá muito pouco por aqui. Agora só a parte mais nova.
Jussara: Mais difícil encontrá morador antigo.
Benedita: Mais difícil encontrá. No tempo da infância dele, eram os primo dele, eles moram tudo lá em
Santa Isabel, tudo pra cidade. O primo dele que mora mais próximo, mora aí no Mascate [bairro], pós
Nazaré. Então da família dele é esse, agora os meus irmão mora tudo aqui, só tem um que mora em Nazaré.
Daí o mais contato que a gente tem com a família né também.
Jussara: E agora a gente tá indo meio pro rumo final da nossa conversa, aí eu queria saber se vocês gostam
de morá aqui e o que vocês esperam pro futuro desse lugar aqui.
João: Eu gosto, gostaria de morá aqui até o fim [risos], já tá perto, tá curto.
Benedita: O tempo tá pouco né, mas a gente espera ficá até o fim. Por aqui é abençoado, esse nosso cantinho
aqui é abençoado. O cantinho a gente vive sossegado.
Jussara: Ir pra cidade nem pensá?
Benedita: A gente vai pra cidade, chega lá a gente não vê a hora de voltá pra casa [risos].
João: A cidade a gente vai, mais num tem o que fazê, a gente conversa com aqui, conversa com outro ali,
mais logo acaba o assunto, aí vem embora. Então se a gente morá lá, a gente fica fechado lá dentro. Aqui a
gente sai um pouquinho, dá umas vortinha, agora aí tudo bem. Às vezes trabalha um pouquinho [risos].
Benedita: O tempo passa. Na cidade não tem né? Saiu dá de cara na rua, se sai pro fundo do quintal dá pro
muro. Então não o que você fazê na cidade.
Séfora: Nem onde andá né?
Benedita: Nem onde andá. Quem só mora e trabalha, tudo bem só chega pra dormi. Mas a gente, ele que
mora, a gente que tá aposentado, então no caso, a gente vai fazê o quê? Vai ficá só dentro da casa. Num tem
onde saí, num tem n’onde andá. Então o sítio é melhor.
João: A gente carpi um pouco, passa um pouquinho.
[.]. E vai indo até chegá o dia da.
Benedita: Da nossa partida, que mais cedo, mais tarde, todos nós vamos né?
Jussara: É todos, o importante é vivê bem né?
Benedita: É o importante é aproveitá bem a vida.
Jussara: E vocêis falaram do sítio eu lembrei de uma coisa: antigamente onde vocês moravam, como que o
sítio era organizado, por exemplo: tinha a casa, e aí tinha a parte de plantá, tinha.como que.
João: Tinha. É, tinha a casa, tinha.
Benedita: A casa era separado, tinha uma parte que plantava, separado, aonde criava o gado separado
também. Era tudo separado. Mais o mesmo terreno, mais tinha essa separação.
Séfora: Mais a casa, a casa mesmo ficava assim no meio do terreno, tinha algum lugar assim?
Benedita: Sempre ficava atráis do fundo do terreno por causa da água, ficava no meio.
Jussara: E aí a água tinha que fazê poço? Não cê falou que pegava.
Benedita: Tinha a água de mina e a água de rio, ribeirão que passava. Na minha mãe era assim.
Jussara: E na sua também era?
João: Era do rio [.]. Tinha o lago pegava do lago, lavava roupa lá.
Benedita: Tinha lago, pegava água no tanque agora na minha mãe lá, era água de mina e água de ribeirão
que falava né, o cômodo que passava que tocava o mijolo.
Jussara: E o mijolo ficava perto do rio?
Benedita: O mijolo ficava no rio. Ficava junto com o córrego de água, que daí a água descia, levava [.].
Jussara: E a tirada do mijolo era mesma do rio ou fazia um caminho?
Benedita: Não o rio era mais embaixo e o mijolo ficava mais em cima tirava o córrego de água por cima
pra. fazia assim num lugar desce pra pegar a água lá em cima pra vir pro mijolo né, uma caída.
João: Desviava a água.
Benedita: Desvia a água. Tirava outro córrego de água. Aí fechava lá aquela parte a água subia pro outro
lado.
Jussara: Pra caí direto.
Benedita: Pra caí direto. Era muito bonito, muito divertida, a minha infância foi essa. Hoje tem baile, tem
tanta coisa né, nosso tempo era mijolo, passeio uma rezinha na capela que fazia, todo ano tinha reza nas
capela. Nosso divertimento era esse. Uma vez por ano a gente ia na Festa de Nazaré, que tinha a festa lá, do
Divino, festa da padroeira, então o divertimento era esse, muito pouco né?
Séfora: Mais ainda tem essas festa lá?
Benedita: Tem mas só que muita pouca gente que dá né? Agora não dá mais. E a maioria já nem vai na festa,
vai mais, mais pra curti né o som, a brincadeira né? Nem vão pra festa mais.
Jussara: Que a senhora comentou que ia nas rezas nas capelas, eram do bairro mesmo?
Benedita: No bairro.
Jussara: Na casa das pessoas
Benedita: Na casa das pessoas, que hoje já nem tem mais essas capela.
João: Tinha capela.
Benedita: Era uma capelinha assim pra lá tinha umas imagem lá que faziam a reza.
João: Ia lá tomava café.
Benedita: É tinha café, queimava rojão, o capelão rezava.
Séfora: Ia o pessoal todo do bairro?
Benedita: É todo do bairro. Aí já era aquele, todo ano aquele celebramento. Hoje tem a capela ali, mais é,
agora é mais. como se fala dominical né, que eu já não frequento mais essa capela. Então no caso tem o
padre que faz a missa uma veiz por mês, se eu não tô enganada, e as, as mulher, como é que se fala? Ministro
que conduz né? Tem os pastores deles ali também.
Jussara: Mas antes era um tempo de fartura também né?
João: É.
Benedita: Era. A gente fechava o porco no chiqueiro trêis meses, cevava o porco ficava dessa grossura
assim. Era toicinho só, aí abria tinha a gordura, aproveitava a gordura.
Jussara: Fazia a.
Benedita: Fazia a comida, fazia o arroz, fazia o feijão.
João: Não usava óleo.
Benedita: Num tinha óleo, era a gordura do porco.
Séfora: Gordura do porco mesmo né?
Benedita: Gordura do porco. Nossa era uma alegria porque era uma fartura né? Com o porco tinha de tudo, a
gente aproveitava tudo porque do porco que tinha.
Séfora: Aproveitava tudo de tudo né? Dos bicho, da plantação.
Benedita: Dos bicho, da plantação.tinha essa liberdade.
Jussara: Nossa mais foi muito boa as histórias de vocêis. Pra quem falou ah não sei se tem muita
história.muito legal.
Benedita: Mais nóis não tem mesmo muito história pra contá, que a gente viveu a vida que a gente viveu né?
Jussara: Mas é a história da vida de vocêis né que é muito rica.
Benedita: É foi uma vida rica mesmo, apesar de vivê uma vida muito pobre, mas ao mesmo tempo era muito
rica, divertida.
João: Nóis tinha o que a gente colhia né, num faltava. Vendia pra arrumá um dinheirinho, o que sobrava.
Benedita: Mais era tudo difícil antigamente meu Deus, que nem hoje né tudo pronto!
João: Nem tinha estrada né?
Benedita: Estrada num tinha, ia a pé pra Nazaré que num tinha carro.
João: Cavalo.
Benedita: Num tinha nada.
João: O transporte era os burro.
Benedita: O transporte era cavalo e burro.
Séfora: Cêis tinham cavalo aqui?
Benedita: Tinha cavalo e burro. Trabalhava com tropa. Tropeiro. Bardiava carvão daqui pra Nazaré nas costa
do burro. Depois chegou a estrada, cê sabe, conta mais essa história, eu não sei.
Jussara: Como que é a história do tropeiro?
João: [19]56 chegou a estrada aqui, era uma estradinha ali, se chovia o carro não sobre.
Benedita: Se chovesse não passava, mais no tempo bom vinha o caminhão né? Só tinha caminhão naquela
época e jipe tinha?
João: Tinha.
Benedita: Tinha esses carro só.
João: O jipe ia nem que chovesse.
Jussara: E como que fazia o trabalho da tropa antes da estrada?
João: O trabalho da tropa era o seguinte: transportá né o que tinha. Que aqui tinha o.o pessoal levava muito,
as criação: era porco, cabrito, frango pra levá pra Santa Isabel, que tinha, pega o dia de terça feira aqui subiu
essa área, que tinha os compradô que saía comprá. Tinha os comprador que, vamo chama de. atravessadô
né? Então eles comprava dos pessoar né, tinha já era combinado. Aí chegava segunda feira ele saía pegando
tudo e no outro dia terça ele ia embora. Lá em Santa Isabel, agora já acabou a feira de Santa Isabel, tem feira,
mas só que é outra.
Benedita: Mais ainda tem lá criação do Zé.
João: É coisica, num vende nada.
Benedita: Mais galinha [risos].
Jussara: A tropa então ia pra lá, pra Santa Isabel?
João: Madrugada aí tão passando.
Benedita: Nazaré num vendia nada né?
João: Não.
Benedita: Só Santa Isabel que vendia.
Séfora: O senhor falou que levava carvão também?
João: Exato.
Séfora: Como que era o carvão?
João: O carvão era no burro. Subiu esse morro um dia encontrei com as burrada, ainda era pequeno [.] sete
ano né, quando ocê encontrava com burrada num parava mais, eu fiquei parado na beira da estrada deixei
passá. Porque tinha oito tropeiro em cinco burro cada um.
Benedita: Carregava carvão ali atraís da montanha, 4 saco de cada burro ia embora batê lá em Nazaré.
João: E tinha o pessoal de Pedra Branca, Ouro Fino, pegava aqui, levava em Santa Isabel a Arujá, era longe
também. Era tudo estradinha assim, bem estradinha [.].
Séfora: Fazia o carvão no meio da mata mesmo?
Benedita: Passava no meio da mata.
João: Era um trilho né?
Benedita: Um trilho no meio da mata.
Jussara: E o senhor trabalhou com tropa?
João: Não eu não trabalhei. Carvão eu fiz bastante.
Jussara: Fez carvão bastante?
João: Fiz.
Jussara: Fez carvão bastante? A senhora também trabalhou no carvão?
Benedita: Fiz.
Séfora: E aí fazia com as árvore do mato mesmo?
João: É.
Séfora: Mais tinha alguma que era melhor pra fazê carvão?
João: Tinha. Tinha umas madeira.
Benedita: As madeira dava carvão era boa.
Séfora: É? Quais?
João: O carvão, lá tem muita madeira.
Benedita: Tem muita madeira boa né?
João: Que dá carvão bom é o jacarandá e o guatambu. Aquela. angica esse aí dava carvão bom.
Jussara: O que que é um carvão bom?
João: Carvão bom de fogo é que, que ela acende o fogo forte e aí atura o. o fogo. E tem conforme a lenha,
conforme a madeira, às vezes dá um carvão levinho, pois o fogo ali na hora queima.
Séfora: Hum.mais rápido né? E fazia como o carvão?
João: A gente fazia o forno, forno, caieira né. Fazia um [.]
Benedita: Ponhava as lenha tudo em pé e cobria tudo com facho, como é?
João: Ponhava os facho, os capim lá e.aterrava.
Benedita: E temperava tudo com terra né. Aí ponhava fogo e fazia assim o carvão.
João: Era tudo o serviço.
Séfora: Colocava a lenha, depois cobria com?
Benedita: Capim
Séfora: E terra por cima?
Benedita: Ia terra por cima. Aí fazia aquele terraço e aí ponhava o fogo pra cozinha. Mas só tirava o carvão
tudo brasa né.
João: Não era apagado.
Benedita: Apagava, mas é brasa, não tava assim o carvão preto como cê vê assim, porque hoje muitos, tem
muito que faz carvão né? Que já tem o forno próprio de fazê. Hoje é o forno assim de tijolo, então eles coloca
lenha, já cozinha, já põe fogo, aí quando esfria vai tirá o carvão preto. E na caieira não, na caieira quando
varava a caieira, que acabava de cozinha, já iam tirá o carvão, tudo em brasa. Aí ia apurando né com terra,
pra pagá com a brasa.
João: O forno [.] o barranco assim, e fazia altura assim.
Benedita: Naquele tempo era a terra, o forno era na terra.
João: Esse é o meu trabalho de carvão.
Benedita: Esse ele e nói, nóis já trabalhemo assim. No [.] e no barranco assim. Que se cozinhava.
Séfora: Que é debaixo da terra?
Benedita: Debaixo da terra. Agora que os carvoeiro trabalham é de tijolo, que em cima tem um e lá em baixo
perto da Congregação tem outro. Os forno é tudo coberto. Então era sofrido, mais é mesmo, naquele tempo
era na cairiera mesmo.
João: Caieira é serviço duro.
Benedita: E fazia, e daí tava tudo com fogo ainda não chegava a apagá aqueles fogo, desse o carvão preto,
ficava em brasa. Num cheguei, num conheci, caieira, nunca vi caieira. Mas você [esposo] que conta que é
assim.
João: É.
Jussara: Demorava quanto tempo pra fazê o.
João: Demorava um pouco.
Benedita: Mais fazia uma caieira bem grande né, demorava.
João: Dependia do tamanho que fazia. Caieira de 300 saco, 400.
Séfora: Nossa.
Benedita: Era muito.
João: É grandão. Caieira era tudo grande.
Benedita: Daí dava bastante porque.
Séfora: Nossa muita coisa.
Benedita: Agora tem os forno que passa daí saco, acho que uns dez, onze saco, por forno né?
João: 20, 30 saco.
Benedita: Pequeno. Então não é muito grande, dá pra tirá 3, 4 forno num dia e enchê, então não é muito
grande né? Mais naquele tempo da caieira ia semana pra.
João: Semana? 15 dias pra vará.
Benedita: Pra vará.
João: E aí quando chovia era aquele sofrimento.
Séfora: Nossa vida, mais aí tinha que fazê alguma coisa ou punha a terra e deixava lá?
João: Não.
Benedita: É que a chuva rodava, tinha que cobrí.
João: Tinha que cobrí lá e bardeá com terra, com barro.
Benedita: Cobrí tudo de novo no outro dia.
João: Senão queimava tudo.
Jussara: E por forno quantas pessoas trabalhavam? Era cada um num forno?
João: Era cada um, um ajudava o outro quando ia.
Benedita: Quando a caieira era mais gente, não era sozinha não.
João: Pequena era sozinho mesmo.
Benedita: Pequena era sozinho, mais grande de todo saco que você falou tinha mais gente.
Jussara: E os moradores eram unidos?
João: Era tudo unido.
Benedita: Era tudo unido naquele tempo. Um ajudava o outro.
João: Chamava, ah eu preciso da terra na caieira vamo aterrá, cobrí assim de terra, aí ia 4,5,6 pessoa [.]
botava fogo e esperava [.]
Benedita: Tinha que tratá [.], tinha que tratá né?
João: Isso. Tinha que cortá toquinho miúdo assim pra.
Benedita: Fazia aquele buraco na caieira que o forno tornava aí tinha que enchê.
Jussara: Como que cê falou tratá.
Benedita: Porque a caieira ele faiz aquele buraco né?
João: Faiz o buraco o fogo [.]. A pessoa vai vendo ali [.]
Benedita: Daí coloca mais madeira [.]
Jussara: Nossa é bem trabalhoso né?
Séfora: Muito.
João: A caieira é um forno bom de trabalhá.
Séfora: Mas vocêis chegaram a trabalhá em forno também?
Benedita: Em forno nós trabalhamos também. Aqui quando nós compramos o sítio, nóis fizemo muito
carvão aqui.
Séfora: No sítio.
Benedita: Aqui no sítio. Agora tá no eucalipto.
Séfora: Mais por que parou de fazê assim?
Benedita: Não tem como tirá mais a mata.
[.] Fazia só do mato do terreno né? Agora não pode mais.
João: Agora aqui tem a reserva aqui.
Benedita: Tá tudo me reserva e o que tá em reserva é reserva, o que tá em eucalipto é eucalipto. A gente não
faiz mais carvão.
Séfora: E eucalipto contrata empreiteira pra cortá e levá?
João: Tem o cortador que corta [.]. A gente vende aí pra esses caminhoneiro. A gente compra e eles
transporta pras firma.
Jussara: Mas o mercado é daqui de Nazaré ou é da região?
João: Não.Guarulhos, São Paulo, Campinas, eles levam pra.
Séfora: Se deixá vai o dia inteiro né, a gente vai aqui a noite inteira conversando.
Pesquisadoras: [risos]
Jussara: É que a gente gosta também né? Então.a gente ouve com muito.muita atenção, curiosidade né.
Vai as duas [risos], é que a gente gosta mesmo porque mudou muito né?
João: Mudou.
Benedita: Mudou nossa.
Jussara: E uma coisa que a gente sente, que a gente acha importante é que quem não conheceu tenha né uma
oportunidade de ter acesso a isso porque é a história nossa né? É nossa, é da região, de São Paulo, do Brasil.
A gente ouve tanta história de outros lugares mais não conhece a nossa própria história né?
João: O meu pai contava bem antigamente antes de.o meu pai tava, agora tá completando, já completou, vai
completá 108 ano, todo o tempo dele, quando ele era na mocidade, menino, num tinha carvão, num existia.
Carvão surgiu foi de 80 ano pra cá. É mais ou menos isso aí. Aí a vida dos pessoal melhorou, porque antes do
carvão, 100 ano atrais os pessoal viviam só da planta, só que tinha porém, tinha aqueles armazenzinho,
vendia pra pagá num prazo de 1 ano. Então plantava arroiz bastante, fazia aquelas planta de milho, pra sobrá,
quando chegava no fim do ano, no tempo da colheita, daí ele vendia aquilo lá, ia pagá o armazém. [risos].
Mais comprava pouca coisa, o armazém esperava 1 ano. [risos] Era assim.
Jussara: Demorava muito né?
João: É. Depois que surgiu o carvão, começou a evoluí lá, e daí o carvão saiu.
Benedita: E o carvão dava dinheirinho pro povo, melhorou bastante.
João: Daí acertou bem a vida.
Benedita: Daí quem tinha oportunidade de fazê o carvão, tinha a vida já mais melhor.
João: Como dizê. tinha uns troquinho a mais.
Benedita: Era tudo puxado na costa do burro, mais tinha um pouquinho mais.
Jussara: Dava pra vivê melhor?
Benedita: Dava pra vivê melhor.
João: Até os burro de hoje não presta mais.
Jussara: É?
João: Não.
Benedita: Os burro são fracos.
João: Os burro de antigamente era tanto fazia os tropeiro ou os burro, ia embora lá pra Bragança [Paulista],
hoje se carrega um burro com 4 saco de carvão, num.chegou aqui embaixo já enfraquece tudo.
Benedita: Não chega nem em Nazaré.
João: Nem ia chegá, nem na Dom Pedro [rodovia] chega. [.]
Jussara: Por que será?
João: Num sei.a natureza do tempo né?
Benedita: Da natureza, o fim. no começo tudo é forte, depois vai ficando mais fraco.
João: Natureza do tempo.
Benedita: Nossa, os tropeiro de antigamente andava tudo descalço. Ia embora com a tropa pro meio do mato
chegava na cidade e voltava andando, pisando na terra, no barro.
João: Chegava lá comia um salaminho, tomava uma pinga [risadas].
Benedita: E pronto tava apagado.
Todos: risadas
Séfora: E já resolvia né?
João: Era assim.
Benedita: Não recebia né? Ficava pro fim do mêis. Que não recebia também não.
João: Não. Tinha que levá um dinheirinho de vez em quando né pro salaminho.
Benedita: Levava um virado, um litro de café, ia embora [risos].
João: Café com garapa.
Jussara: Como que era o virado?
Benedita: Virado de feijão. Virado de feijão é que eles carregavam né pra comê. Daí o cafezinho era de
garapa.
Jussara: E como que fazia o virado de feijão?
Benedita: O virado de feijão você refoga na panela e jogá farinha de milho, mexe, daí faiz um viradinho né?
Séfora: Põe carne?
Benedita: Põe o que quis é no meio. Puro, o que tivé pode por. Baicon, um torresmo lá no meio, fica mais
gostoso.
João: Um ovinho frito. [risos]
Todos: risadas
Séfora: Acho que é prato mais típico daqui né?
Benedita: É, o mais preferido. Que a gente prefere. E as criança toda gosta, mais é um alimento muito bom,
viradinho de feijão mesmo.
Séfora: É gostoso mesmo.
Benedita: Muito bom.

Source: http://flora.ipe.org.br/docs/interview_3.pdf

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Low-dose naltrexone for disease prevention and quality of lifea Department of Humanities and Social Sciences, Embry-Riddle Aeronautical University, Daytona Beach, FL 32114, United Statesb Department of VCAPP, College of Veterinary Medicine, Washington State University, P.O. Box 646520, Pullman, WA 99164-6520, United StatesThe use of low-dose naltrexone (LDN) for the treatment and prophylaxis

Andkar_pek

List of publications (Anders Karlsson) 1. C. Pettersson, A. Karlsson and C. Gioeli., Influence of enantiomericpurity of a chiral selector on stereoselectivity., J. Chromatogr. 407 (1987) 217. 2. A. Karlsson, C. Pettersson, S. Sundell, L-. E. Arvidsson and U. Hacksell., Improved preparation, chromatographic separation and X-ray crystallographic determination of the absolute configuration of the ena

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