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Sobre a rota de síntese do efavirenz
O tema do efavirenz encontra-se na ordem do dia, pois este mês de maio o
governo brasileiro adotou decisão inédita de decretar seu licenciamento compulsório atendendo ao interesse público. Afirmou que tem estoques deste fármaco, comprado da Merck Sharp Dohme, até agosto do corrente e que o importará da Índia como genérico enquanto não o produz sinteticamente, o que está previsto para meados de 2008, através laboratórios oficiais liderados por Farmanguinhos. Estas razões justificam que a rota de síntese deste fármaco, abra esta nova sessão – A Palavra do Especialista - no portal do IVFRJ-FAPERJ.
Efavirenz (Stocrin®, Merck Sharp Dohme, 1994)
A inibição da enzima transcriptase reversa do vírus da síndrome da imuno- deficiência adquirida (SIDA /AIDS), está confirmada como estratégia apropriada para combater esta virose, sendo um alvo terapêutico validado. Existem diversos fármacos capazes de atuarem por este mecanismo, dentre eles o efavirenz (1). Esta substância
tem a estrutura química indicada na Figura 1, abaixo. Em termos estruturais sua estrutura pode ser considerada relativamente simples, embora bastante funcionalizada. Efavirenz
Merck Sharp Dohme, 1994
C9H15ClF3NO2
Figura 1 – Estrutura química 2D e 3D do efavirenz e sua fórmula de peso A síntese do efavirenz envolve várias etapas consecutivas tendo sido concluída
no Departamento de Pesquisa de Processos dos laboratórios de pesquisa da Merck em Rahway, Nova Jersey, EUA que a publicou em 1998,1 fundamentando-se no esquema Figura 2 - Esquema retrossintético do efavirenz.
O desafio maior que esta síntese representa, consiste na natureza quiral do fármaco, o que exige um processo de síntese assimétrica para permitir o controle da configuração do carbono estereogênico benzílico quaternário do sistema di dro-2H- benzoxazinônico do efavirenz, de configuração S ([
CHCl3). Ademais, a presença do grupamento trifluormetila sobre este carbono quaternário quiral, acrescenta uma dificuldade suplementar na preparação de um dos materiais de partida, o derivado do ácido orto-aminobenzóico clorado, contendo a parte aromática da estrutura química do efavirenz. As metodologias sintéticas usuais para a
construção de subunidades ariltrifluormetilcetona são mais complexas do que aquelas apropriadas para a obtenção de arilmetilcetonas. O esquema da Figura 3, a seguir, ilustra a rota sintética empregada para a preparação desta matéira-prima, i.e. a subunidade ariltrifluormetilcetona funcionalizada, necessária para a síntese do efavirenz segundo a rota descrita na literatura.1
Figura 3 – Síntese da matéria-prima ariltrifluormetilcetona funcionalizada. De posse das matérias-primas adequadas, a rota sintética descrita para o efavirenz emprega a reação de acoplamento do sal de lítio do ciclopropilacetilêno (esta
segunda matéria-prima necessária à síntese descrita pode ser adquirida comercialmente) com a ariltrifluormetilcetona funcionalizada, em condições de adição nucleofílica-1,2 assimétrica, que pode produzir o excesso enantiomérico adequado (cf. 50:1), conforme descrito pelos pesquisadores da Merck,1 que empregaram derivados sintéticos da efedrina como auxiliares quirais neste processo, altamente enantiosseletivo e que se mostrou mais eficiente quando o grupamento amina encontra-se protegido por uma subunidade para-metoxibenzila, que introduz efeitos estéricos favoráveis à enantiosseletividade do processo de adição nucleofílica-1,2. Esta etapa, crucial na síntese do efavirenz, está ilustrada na Figura 4, a seguir.
Figura 4 - A etapa enantiosseletiva para o intermediário-chave quiral. A rota sintética descrita para o efavirenz se completa pela liberação da anilina,
que se faz em 92% de rendimento pelo tratamento do produto da adição nucleofílica-1,2 com DDQ, em tolueno, seguindo-se da adição de boroidreto de sódio em metanol alcalino (NaOH). Finalmente, incorporação do carbono faltante e simultânea ciclização para o sistema di dro-2H-benzoxazinônico do efavirenz é realizada pelo tratamento do
amino-álcool com fosgênio, numa mistura de THF/n-heptano de 0o C até 25o C., seguido Figura 5 – Etapas finais da síntese do efavirenz.
Esta rota sintética descrita pela Merck para o efavirenz, tem como principal desafio
a etapa enantiosseletiva na construção do carbono quaternário estereogênico do fármaco, que deverá ser obtido enantiopuro, em bom rendimento químico e escala Referências bibliográficas:
1. a) M. E. Pierce et al., J. Org. Chem. 1998, 63, 8536-8543; b) A. Thompson et al., J.
Am. Chem. Soc. 1998, 120, 2028-2038.

Source: http://www.ivfrj.ccsdecania.ufrj.br/especialista/efavirenz.pdf

Doi:10.1016/j.cccn.2005.01.006

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